quarta-feira, 20 de maio de 2009

Mais um dia perfeito, mas muito difícil!

Ontem à noite, quando ceguei ao hotel vejo duas BMW de estrada, duas st 1200. Estou a tirar o saco de depósito e vem um senhor a correr falar comigo… era um dos donos. Conversa, conversa… amigos…
De manhã tomamos o pequeno-almoço e preparei-me para seguir os planos feitos com o Juan no dia anterior. Para não gastar os pneus, evitar camiões, alcatrão e estradas sem piada, planeamos ir por estradas secundárias, de ripio, pela famosa ruta 40, uma parte em ripio, terra e areia (só descobri que havia terra e muuuiiiita areia tarde de mais), um troço com perto de 120 km.
Meto-me a caminho…



Estou parado ainda na parte de alcatrão a tirar umas fotos e vejo outra mota no sentido contrário, mas daquelas que se vê logo que é estrangeiro a viajar há muito tempo.

Dan é dos usa, colorado, 46 anos e está a viajar a solo quase há um ano pela América do sul. É a primeira mota que tem. Isso é que é coragem… Provavelmente vamo-nos encontrar por aí.


Uns Km’s mais à frente, paro no desvio, para o tal troço da ruta 40. Andes com neve á esquerda, planície sem nada à direita. É agora ou nunca, não se vê, obviamente, o fim… respiro fundo, ponho-me em posição de ripio (em pé nos pedais) e arranco.

Vista inicial da Ruta 40


2 km’s depois, saio involuntariamente do trilho feito por outros carros, que tem o ripio menos profundo e é mais fácil anda, isto porque estava distraído com a paisagem, vou parar à berma, ripio profundo, a mota dança (frente) e pum chão!



2 km’s e já no chão !?!??! tinha 118 pela frente, sem nada nem ninguém! E agora ?? Por sorte, passa um carro 5 minutos depois e ajudam-me a por a mota de pé. Tive 10 minutos para desengatar a mota, que estava em 4ª… fumo um cigarro, olho para um lado, uma recta a perder de vista, e olho para trás, um alcatrão reluzente a chamar por mim…
Dilema:
Se volto para trás, fico com medo e mais vale ir para casa, se avanço, arrisco-me nesses 118 km’s de estrada que sei que ia ficar mais difícil, de cair, não passar ninguém (o mais provável) e ter que esperar horas ou mesmo ter que dormir na berma da estrada, à espera de ajuda para levantar a mota.

Pela frente, 118 km's
Para trás, 2 km's e o belo alcatrão...


Decidi continuar, ao princípio com medo, mas à medida que os km’s passaram, soltei-me outra vez e dei por mim em 4ª a 100 Km/h apanhando vários tipos de ripio, a mota a chicotear furiosamente, mas a frente controlada.
Vista da minha direita, Andes:

Algures no meio:



A meio do troço, passa-se por uma barragem:

Mais uma paragem para descançar:


A certa altura, ia a 100 e vejo uns 400 metros de areia tipo praia, já não tinha tempo para travar e parar, nem tempo para nada… entrei a 100 pela areia, com a pouca experiencia tirei acelerador, o pior erro, a frente afunda, começa a ir de um lado para o outro… vou cair de certeza. Instintivamente e por medo, cheguei o rabo para trás, mas ainda apoiado nos pedais, o que fez que o peso fosse para a roda traseira, desenterrando a frente e … magia.. acelerei e dei por mim a andar em cima da areia, com a roda de trás a chicotear, a frente também, mas tinha a mota controlada. Não caí, apanhei muitas mais partes de areia, terra e ripio fundo e nunca mais tive problemas!
Os 120 Km’s chegaram ao fim, estava todo, mas todo partido mesmo, mas muito feliz… dei mais um importante passo! Tudo branco do pó


O destino era Lá Consulta, uma terra pequena antes de Mendonza. Parei num restaurante para almoçar, mas estava vazio, apenas com uma mesa com 4 pessoas, já com os cafés servidos.

Vou a sentar-me numa mesa ao lado da janela para ver a mota e fui convidado para me juntar à mesa!
Um era o dono do restaurante, o outro tem uma propriedade de vinhas e produz vinhos, os outros dois amigos.
Ofereceram-me almoço, bebida e digestivo. Trocamos mails, todos apaixonados de motas! Incrível!

Preparado decom as cores nacionais, de propósito e dito por quem o fez, (o amarelo está no queijo):


Chegado a Mendonza depois de mais 120 km’s entediantes de alcatrão, feitos a 60 Km/h por estar muito cansado, descubro um hostel com ajuda do lonely planet e do gps, descarrego tudo, tomo um duche (estava branco de pó) guardo a mota na garagem e vou dar uma volta.

Vejo uma mota igual à minha a duas quadras (quarteirões) do meu hostel, entro no bar onde a mota estava parada e pergunto quem é o dono. Descubro pelo capacete, uma mesa com um pai, um filho (o dono da mota) e uma filha.

Convidaram-me logo para me sentar na mesa, conversamos um pouco. São o Marcos (pai), o Romano e a Agostina. Todos têm BMW, uma 1200 Marcos, a agostina a 650 e o Romano a igual à minha. Conversa, mais conversa e já tenho programa até domingo.
Amanha de manha, vou passear de mota com o Romano pela zona. Depois vou estar com a Agostina, que é enóloga, que me vai levar às bodegas deles.
6ª feirar, vou à casa de campo deles, para manter a mota (lavar, olear, apertar parafusos… etc). Sábado e domingo à uma concentração de BMW de todo o país, cá em Mendonza, no domingo com direito a ir até à fronteira com o Chile, o que para mim é perfeito, pois sigo para Santiago.

O Marcos, conhece o pai do Pablo!
Sorte, não ?????

10 comentários:

  1. Granda pinta! A tua descrição dá-me umas saudades loucas do continente da alegria :) Vais café para beber água e já estás numa rede de filmes e convites. A ver se nos cruzamos na A. Central, abc e continuação de boa viagem
    Carlos

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  2. MUITA BEM!!!!!!!!!!!!!!
    Tou-me a passar! Grandes aventuras descreves tu, já te vejo a fazer o dakar (se for aí, melhor, pq já conheces o terreno).

    Abraços meu caro viajante,
    João

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  3. Grande Rodrigo! Cada vez que venho aqui, é um acesso incontrolável de várias emoções, inveja, orgulho, saudades, alegria. Tás em grande, continua a aproveitar. Quem me dera. Abc! Jorge

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  4. Grande Rodrigo!!
    É isso aí! O caminho é para a frente!! Para trás nunca ;)
    Good luck! Grande beijinho,
    Una de las chicas

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  5. Qualquer coisa como comer um livro capitulo a capitulo, sempre à espera de mais...

    Grande viagem, grande espirito!
    Que corra tudo bem...Continuação de boa viagem.

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  6. Sorte nada, é msm assim, e quanto mais intuição criares, mais longe vais, fisica e psicologicamente.
    Grande Carvalho, esse é o caminho, invejo-te por te encontrares e conseguires acreditar.
    Vai tudo correr melhor ainda.
    Boas aventuras.

    Victor Afonso

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  7. Rodrigo.

    Força e ficamos a espera de mais umas historias.
    Já estas Pro em Off Road.

    um abraço
    Rui Baltaze

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  8. Mas que loucura e inveja que eu estou a ter dessa viagem...estás em grande...abraço

    Krepes

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  9. Rodrigo,
    veo que ya estas hecho un practico experto del camino de tierra. Seguimos tu aventura por tu blog. Boa sorte y forza sempre!.
    Agustin (seu amigo de San Rafel con a R1200RT cor plata)

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  10. Tenho as mãos suadas e os olhos humidos...
    Será possivel eu ter ainda mais orgulho no meu irmão?
    Sempre que aqui venho fico.....cheia
    Obrigada i

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