sexta-feira, 12 de junho de 2009

This is Bolivia…

Em conversas com os meus amigos, tanto o Pablo como a minha ‘familia’ Mendonzina, bolivia seria a meca. Teria tanto de bonito como de dificil. Todos me disseram, não vas sozinho, não é execuivel ir sozinho, tanto pelos problemas mecanicos que terei de certeza, como pela dificuldade das estradas whana be.

Pois é, estou na bolivia há 1 semana, e confirma-se.

Primeiro dia, de san pedro do atacama, para a bolivia, poucos km’s de estrada chilena, optima, de alcatrão em muito bom estado. A estrada continua em frente, e temos uma placa a dizer Bolivia para a esquerda. Imaginem… de ripio. Lá vamos nos, passamos a fronteira, os guardas muito simpaticos.





30 km mais à frente de estrada merdosa, cheia de buracos, poços de areia, terra, saltos, pedras mesmo grandes… umas termas naturais, mesmo junto ao caminho que estavamos a fazer. Já tinhamos planeado parar um pouco lá, tomar um banho nas aguas quentes e ricas em minerais termais.

O Owen e o Pete já de fato de banho vestido, preparados para entrar, quando olho para a minha mota…

Um furo … f%$# 30 Km’s ???? como 30 km de bolivia com direito a um furo???? JÁAAAA ????? Na p%## da roda de trás, aquela que não tirei, não treinei, e que segundo o Pablo era muito mais dificil de mudar. F&$%& … Ca%#%#...

Tinha uma chave de parafusos inteira dentro do pneu


Caga lá nas termas, na meia hora que tinhamos para relaxar e mãos à obra… ah, isto tudo nos famosos 4500 m de altitude, onde 20 passos são uma tarefa herculeana.

Tinha uma chave de fendas inteira dentro do pneu, um buracone gigante, tanto na camera de ar, como no pneu em si. Depois de uma reunião geral entre os 3, chegamos à conclusão que seria mais seguro por o pneu novo que tinha comprado na argentina, pois o buraco era grande de mais.
Descanso central posto , ferramentas de fora, e vai de sacar a coisada.

Puxa daqui, tira dali, força aqui e la sai a roda. Eu, o único que tinha tido uma lição práctica de mudar a camara de ar, começo a tentar tirar o pneu da jante… seria simples, na da frente foi. Uns saltinos em cima do pneu e este descolava da jante, certo ?? no da frente, em casa do Pablo, foi fácil… este CabR#%$& do de trás, muito mais grosso, não quer dar de si… nem os 90 Kg do Pete o convenceram a saltar fora…


Ideia genial do Owen, usar o descanso da mota dele como alavanca para arrancar o pneu da jante… O cabr”#$% do pneu, ao ver os 200 Kg da mota, condensados numa minuscula superficie que é a ponta do descanso, cagou-se todo e descolou logo!!!

Primeira tarefa conseguida, pneu descolado da jante. Agora com as alavancas próprias para o tirar da jante, aquilo que já tinha feito com o da frente, tiro todo um lado…

Ok, agora tenho a camara de ar acessivel, que para mudá-la é o suficiente, mas como queremos tambem mudar o pneu, tenho que tirar o outro lado.

Dito assim pode parecer fácil, mas só tinha tido lição de mudar a camara de ar, não o pneu, e só do da frente.

Relembro que estamos a 4500 m de altitude, onde ir mijar ao arbusto mais proximo, é um problema…

Três gajos, um pneu teimoso, uma jante agarrada com unhas e dentes, meia liçao de como muda-lo, 4500 m de altitude e na famosa bolivia onde não há nada… Isto promete, ai promete promete!

Porrada para cima, para baixo, do lado, pontapés, (sim isto não é como o windows em que um simples botão de reset resolve 90 % dos problemas)
Lá conseguimos tirar o pneu, pôr o novo… e agora, com metade do pneu posto na jante, vem a camara de ar:

Pipo tem que entrar no buraco, assim dizia Pablo… e sem dificuldade nenhuma o fiz em casa dele…
4500 m, e a merda do pipo não entra no buraco, porque este pneu é mais fino que o de origem, então não conseguimos meter as mãos de maneira a agarrar o pipo por dentro e mete-lo no buraco… Aiiii o C#$#$%$& …

Resumindo, muita porrada, paciencia, tempo, lá temos o pneu cheio e pronto.
Um grande abraço a três, mesmo sentido, com direito a grande festa...

Durou pouco, olhamos os 3 para o lindo, novo, cheio, reluzente pneu, mas…
F$#$% está lindo, reluzente, cheio, como num pedestal… falta algo, ele onde estava, lindo, relzente, cheio, magnifico, não ia a lado nenhum… nem a mota, sem ele, no seu descanso central, nua, fria, triste, incompleta…

Ca#$$%#%!!!v agora deve ser mais ou menos fácil, só fazer o contrario do que fizemos para desmontar.

-Alguem se lembra de onde este espaçador saíu ??? pergunta Pete.

- Ummmmm não sei, respondemos ambos… havia mais uma quantidade de coisas de fora, que nenhum de nós reparou bem como tinha tirado, tal era a gana…

Bem, este foi o menor dos problemas, 5 min a olhar e lá descobrimos como se montava.
Como disse, o furo foi no meio de uma estrada, wanna be… O que deu direito a que o descanso central enterre todo nas suas entranhas, e de maneira assimetrica.
Agora temos a mota nua, triste, incompleta e o pneu lindo, brilhante, enpedestalado, cheio, novo…

Como se mete o pneu na mota, que esta toda desiquilibrada, sem espaço para o novo pneu entrar, mais alinhar o disco do travão com as pastilhas que teimavam em saltar, com a cremalheira que tambem teimava em saltar, com a corrente, o espaçador do eixo, o protector da corrente, os rolamentos… a mota torta, sem espaço para o novo pneu, mais alinhar o disco do travão com as pastilhas que teimavam em saltar, com a cremalheira que tambem teimava em saltar, com a corrente.. ups estou-me a repetir, deve ser DA MERDA DA ALTITUDE, DOS 4500 m, que deixam desorientado, cansado, sem capacidade de pensar…

Àh como se não bastasse, os senhores engenheiros da BMW não conseguem fazer a mota LEVE!!! SÃO 300 Kg com as malas (que a altitude não tinha dado asas ao brilhantismo de ter tirado as malas antes)…
Malas fora, muita paciencia e esforço e la está tudo em ordem. 2 horas voaram…

Siga:
Mais estrada wanna be, com partes muito más mesmo. Hora passa, mais outra, mais outra e chegamos a uma bifurcação, para um lado, um refugio, onde todos os tours de 4x4 param para descansar, antes da proxima povoação, e para o outro lado o caminho para onde queriamos ir, Villa Mar.

Umas perguntas a um 4x4 passageiro, e foi tomada a decisão de seguir para a villa, são 50 Km’s e vamos ganhar um dia.

Siga:
Mais estrada wanna be, com partes muito más mesmo (lá vem os 4500 m a fazerem-me repetir… ou serão os 30 anos???)
GPS não marca nada e começamos a ver muitas bifurcações… exponencial, 2, dessas duas da mais duas, mais duas, mais duas, mais duas… horas passam e … sol vai…

-Alguem sabe onde estamos ????
F#%% ESTAMOS PERDIDOS!!!!

Estamos com muiiitoooo frio, pouca gasolina, perdidos, sem sol, sem comida, o GPS sem nada e o caminho é despromovido a caminho de cabras, com a agravante de ter GELO. Passamos alguns caminhos, que nem um jeep passa.
Como se não bastasse, há rios na região, alguns… AHAHAHAHAHAH só da para rir PONTES NEM VÊ-LAS

Recapitulando:

2 horas a mudar um pneu teimoso, 4500 m de altitude, algumas horas de condução em caminhos de merda, temperaturas negativas, perdidos, sem gps, sem comida, noite, pouca gasolina, Rios (esqueci-me de dizer que estavam congelados, ou seja, não fazes PUTO IDEIA DA PROFUNDIDADE DO DITO, passamos alguns 4, com a pura fé, ou vai ou racha), várias horas de condução muito, muito, muito desgastante…

This is bolivia…

9 da noite, 10 horas de condução e duas de mudar pneu e mais aquilo tudo que disse… vamos acampar… há mais probabilidade de passar um carro amanha para nos dar algumas indicações.

O Pete quis forçar, eu estava neutro e o Owen, que entretanto tinha caído forte e feio e não conseguia mexer o pé, pois ficou por baixo de uma das malas quando caíu (ah tinha esquecido esta… não é relevante, pois não ??? F%$%)
Lá fomos parar a uma vila que consistia em 4 casas sem electricidade.
Deu para dormir, jantar pouco, e uns litrinhos do ouro negro, por estes lados mais raro que uma pedra lunar.

This is Bolivia…

2º dia, a passar um rio, a minha querida mota fica enterrada até ao motor, em lodo, daquele que faz vacuo… mais 2 horas para tirar a mota de lá, atamos as fitas todas umas às outras e à mota do Pete, lá deu para arrastar a mota para fora.. Muito muito muito esforço, outra vez, com os nossos queridos 4500 m sempre a zumbirem na cabeça.

This is Bolivia…

Mota enterrada no rio cheio de lodo


Lá chegamos ao destino San Cristobal… maior, já com electricidade, ficamos num quarto mais parecia uma prisão, mas soube a pato… o pior foi o dinheiro.. pequeno pormenor que não nos lembramos.. NÃO HÁ atm’s, não temos dinheiro, precisamos de gasolina, comida, pagar dormida… etc…

Passamos fome nessa noite, pois sem gasolina é que as motas não andam (tambem passamos frio, MUITO).

Dia seguinte, sem pequeno almoço, cheios de fome, lá arrancamos.

This is Bolivia

Chegamos a Uyuni, sem problemas de maior, só muito cansados da wanna be’s, fome, altitude…

This is bolivia…

Já estou cansado (estou neste momento na cidade mais alta do mundo, mais de 4000 m , Potosi)

Depois conto mais…

This is Bolivia…


Quando chegamos à vila no primeiro dia estava tão cansado, que deixei cair a mota...




Um dos rios que passamos, no segundo dia, este tranquilo...


Quem se perde no deserto... morre...

7 comentários:

  1. Ah.. e excelentes photos =P Invejing..

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  2. Muito boas fotografias, muito boa descrição e muita força!
    E o meu coração muitooo pequenino....

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  3. Muito bom....e como é que ficou o eixo dianteiro da mota conseguiste a campanha...e as motas dos australianos estao se a aguentar bem?...que motos sao?

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  4. Epa, ainda não tinha lido este post... e tou em pulgas para chegar ao assalto. Mas só estas aventuras valem tudo. This is Bolivia? This is uma maravilha, é o que é!

    Que grande aventura, Rodrigo. A cada post a minha inveja aumenta. Força, amigo!

    Abc Jorge

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  5. O que eu me ri com este post! Brutal!

    Grande abraço,

    Luis

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  6. Nuno,
    o eixo da frente, nem vê-lo, não estou a conseguir nada... this is bolivia, I guess... os autralianos então a aguentar-se, um está a fazer paragliding em rosario o outro, Owen, está doente, ficou no hostel... safou-se de boa. Têm duas susuki dr 650... aparte da falta de potencia em altitude, e gastar mais 50% de gasolina que eu, não tem tido probs!! abraço a todos

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